Phoenix


Muitas moedas meti eu nesta máquina. A emoção de derrotar o computador, a ânsia de atingir o recorde, o orgulho de escrever as minhas iniciais, ser o possuidor do Hi-Score
Quando não o conseguia meti outra e outra moeda até acabar a semanada.
E havia dias em que desistia mesmo. Não porque quisesse mas porque se me acabavam as moedas porém, havia outros, em que uma moeda bastava para ser o orgulhoso detentor do recorde.
Pelos vistos já aos onze anos era determinado (teimoso se quiserem). Aos onze anos já lutava até ao fim. Mas, terminadas as moedas, que mais poderia fazer?!
Claro que extraviar a semanada na máquina me deixava sem dinheiro para outros prazeres mas, a ânsia de ganhar, era sempre mais forte de que eu. E, terminada a semanada, não me restava senão desistir. Mas desistia convicto que tinha feito tudo, ao meu alcance, para conseguir o ansiado Hi-Score.
Provavelmente muito do que sou hoje devo-o aquela máquina. Não será por acaso que sou informático, digo eu.
Curiosamente a AMSTAR, produtora do jogo em questão, atribui-lhe o nome de “Phoenix”. Phoenix ou Fénix uma ave pertencente à mitologia grega que, ao morrer, entrava em auto-combustão para depois renascer, mais esplendorosa que outrora, das próprias cinzas.
Parece-me que, em vida, também nós morremos e renascemos variadíssimas vezes. Pelo menos acontece comigo. Curiosamente não em ciclos de quinhentos anos, como a ave em causa, mas de dez.
De dez em dez anos um ciclo começa mas, antes, parece que tenho que me queimar até ao tutano, entrar, eu próprio, em auto-cobustão. Depois renasço. Mas, segundo os parcos conhecimentos de física que possuo, a combustão liberta energia, pelo contrário, a criação de algo (o renascimento), implica o consumo de, ainda, mais energia. Por muito que tente entender, nunca cheguei a perceber onde vou buscar a energia para transforma cinzas inertes num novo Phoenix. Mas o certo é que o faço. Umas vezes demora mais que outras, as vidas passadas não são esquecidas, as pessoas trancadas para sempre no passado também não. No entanto ergo-me, abro as asas e voo em direcção ao céu e sempre, mas sempre, a subir.
Sigam-me se conseguirem, caso contrário, deixem-me voar tão perto do sol como possível. Só assim poderei mostrar todo o esplendor das minhas penas.

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